Um estudo publicado recentemente na Science Direct chegou à conclusão de que a conexão com a natureza está intimamente ligada às competências socioemocionais, autoconsciência, autogestão e competências de relacionamento. Por outras palavras, as crianças que passam mais tempo na natureza e criam uma relação com o seu entorno natural conseguem desenvolver-se melhor a nível social e emocional.
Apesar de ser uma conclusão recente, não é uma grande novidade. Afinal, já há vários anos que se fala desta relação com a natureza como sendo um elemento fundamental e um grande adjuvante no desenvolvimento saudável das crianças, a todos os níveis. Por exemplo, em 2021, foi publicado um estudo realizado durante o período de pandemia que tentou determinar as ligações entre a conexão com a natureza e o bem-estar das crianças. Percebeu-se que a grande maioria das famílias notou uma deterioração do bem-estar dos seus filhos à medida que diminuía a exposição à natureza, devido à obrigatoriedade de confinamento. Esta degradação era notória na externalização de problemas de forma exagerada ou em níveis mais elevados de tristeza ou ansiedade.
Outro estudo concluiu que as oportunidades de recreação num contexto natural que, por natureza, não é estruturado, é autodeterminado e oferece muitos eventos inesperados, oferece às crianças a oportunidade de descobrir mais sobre si próprias e outras pessoas, de aprender a interagir de forma construtiva com outros e de criar a fundação de relações próximas de formas únicas e verdadeiramente valiosas. Por outras palavras, esta experiência oferece um nível de desenvolvimento social que não é encontrado noutros contextos.
É consensual que o tempo passado na natureza traz muitas coisas boas. Tanto é fundamental para eliminar o stress do dia a dia como para promover a saúde, o estado de espírito e aumentar a capacidade de concentração. Há, inclusive, investigação que suporta a teoria de que passar tempo na natureza tem um impacto extremamente positivo na saúde mental e na prevenção de doenças do foro psiquiátrico.
Por exemplo, um grupo de investigadores no Canadá descobriu uma ligação muito interessante no que toca ao sentido de conexão com a natureza. Entre os 30 mil adolescentes que inquiriram, os adolescentes que classificaram a sua ligação à natureza como sendo “importante”, tinham uma redução de 25% nos sintomas relacionados com o stress. No México, já havia sido realizado um estudo em que se tinha concluído que as crianças com uma forte ligação à natureza reportavam níveis de felicidade bastante superiores às que não apresentavam essa ligação. E não são os únicos.
No fundo, esta conclusão não nos parece assim tão surpreendente (e nós que o digamos!). Já sabemos que os adultos que têm uma ligação forte com o seu entorno natural são mais capazes de conhecer e cuidar do mesmo. Com as crianças, passa-se o mesmo e não é por acaso que, na Escola Lá Fora, repetimos sem cessar: Só se ama o que se conhece. Ou seja, se não conhecermos a natureza, como podemos trata-la bem?
Referências
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2666622722000508
https://besjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/pan3.10270
https://ccfs.ucdavis.edu/sites/g/files/dgvnsk841/files/inline-files/Natural%20Connections.pdf
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2020.00492/full
https://parentingscience.com/green-spaces-benefit-mental-health/