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A natureza faz-nos mais focados
02 Janeiro 2024

A natureza faz-nos mais focados

A natureza faz-nos mais focados

Já são vários os estudos que demonstram que os ambientes verdes e azuis estão associados a uma redução do stress, estado de espírito positivo e a um decréscimo da ansiedade no geral. Pode largar o balde de tinta… A cor do ambiente está relacionada com o seu próprio contexto, ou seja, verde significa que tem vegetação e azul, que tem água corrente.

Mais recentemente, surgiram evidências de que esta exposição à natureza até beneficia a função cognitiva. Por outras palavras, todos os processos envolvidos na obtenção de conhecimento e compreensão, perceção, memória, raciocínio, julgamento, imaginação e resolução de problemas. Segundo um estudo, com apenas 40 segundos a olhar para um telhado verde, os participantes já faziam menos erros num teste, do que se estivessem a olhar para um telhado de cimento.

O diretor do Laboratório de Neurociência Ambiental da Universidade de Chicago, Dr. Marc Berman, avaliou alguns cérebros com um teste que consiste numa tarefa em que as pessoas têm de repetir sequências de números na ordem inversa. Depois, mandou as pessoas para uma caminhada de 50 minutos num contexto urbano ou natural. Quando regressavam, repetiam a tarefa. A descoberta foi incrível! “O desempenho melhorou em cerca de 20% quando os participantes tinham andado na natureza, mas não para os que tinham estado num ambiente urbano”, explicou.

O verde traz criatividade

Segundo a Professora Kathryn Williams, psicóloga ambiental na Universidade de Melbourne, “a investigação tem demonstrado uma criatividade melhorada após a imersão em ambientes naturais”, explica. Um estudo descobriu que uma caminhada de 4 dias sem acesso a tecnologia aumentou a criatividade dos participantes em 50%.

Mas porque é que isto acontece? Segundo EO Wilson, sociobiólogo, os seres humanos funcionam melhor em ambientes naturais porque os cérebros e corpos evoluíram na natureza e com a natureza. Funciona assim, explica o Dr. David Strayer, do Laboratório de Cognição Aplicada da Universidade de Utah: “Enquanto caçadores-coletores, os que estavam mais ligados ao ambiente natural tinham uma maior probabilidade de sobreviver. Mas depois, construímos toda esta infraestrutura e estamos a tentar usar o cérebro de caçador-coletor para viver num mundo moderno altamente stressante e exigente”.

Não é que ser caçador-coletor fosse fácil, mas a forma como evoluímos parece não estar adequada às necessidades do mundo atual, pois as situações de stress com que nos deparamos não requerem uma reação física, eainda evocam a mesma reação fisiológica (aumento do nível de cortisol, batimento cardíaco acelerado e estado de alerta) que podem impactar a função imunológica e cardiovascular bem como a memória, estado de espírito e atenção.

Então, o que acontece quando estamos na natureza? Ativamos o sistema nervoso parassimpático, uma espécie de ramo do sistema nervoso relacionado com um estado de “repouso”. Isto leva a sensações de bem-estar que nos permitem pensar com mais clareza e positividade.

Natureza anti-stress

Outra teoria sugere que a oxitocina possa estar por detrás do fenómeno, exercendo um efeito anti-stress e de restauração muito fortes quando estamos em contexto natural, que vemos como seguro, agradável e familiar.

Mas… se a natureza apenas afetar o nosso cérebro com essa capacidade de nos dar bem-estar, isso só funcionaria se víssemos a natureza como uma experiência positiva. No entanto, há estudos que dizem que estas melhorias na função cognitiva não estão associadas à melhoria do estado de espírito.

Na sua experiência, Berman pediu aos participantes para fazerem caminhadas na natureza em diferentes alturas do ano, e até em janeiro quando estava realmente frio. Mesmo assim, estes ainda sentiram melhorias no desempenho do teste. Ou seja, nem é preciso gostar de estar na natureza para beneficiar da exposição à mesma!

Também há outra explicação, que é conhecida como a teoria de restauro da atenção, que é a capacidade de manter o foco numa tarefa mental, ignorando distrações externas. Parece que há algo na natureza que envolve o cérebro de uma forma pouco exigente e sem esforços, e que dá às áreas do cérebro responsáveis por esta atenção, uma oportunidade de descansar e recuperar. Isto ganha um papel muito importante, especialmente porque esta capacidade de foco é um recurso finito.

Uma ligação clara

Para os cientistas envolvidos, tornou-se evidente que esta ligação existe, e agora pensam em que aspetos da natureza se podem focar para os melhorar: locais com uma boa diversidade e abundância de pássaros e árvores, que trazem menos ansiedade e melhoram o estado de espírito.

E nas cidades? Bom… acontece o oposto! Há muitos elementos que solicitam o cérebro e o sobrecarregam. Mas, em teoria, se os ambientes construídos imitassem os padrões da natureza, com menos linhas rígidas, mais curvas e uma estrutura fractal elevada, poderiam ter um efeito semelhante na cognição.

 

Como tirar o máximo partido da natureza (The Guardian)

1 – Pelo menos 30 minutos: é a duração necessária para benefícios mensuráveis.

2 – Esquecer a tecnologia: os relógios, telefones, auriculares

3 – Acertar no tempo: segundo um estudo, o reforço cognitivo durou 30 minutos depois de sair do contexto natural, o que pode ajudar a planear a melhor altura para trabalho mais exigente.

4 – Escolher o local: nem todos os ambientes naturais são iguais. É preciso que seja agradável e envolvente.

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