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Adaptação ao jardim de infância: como tornar uma transição difícil numa experiência agradável para toda a família?
01 Setembro 2024

Adaptação ao jardim de infância: como tornar uma transição difícil numa experiência agradável para toda a família?

Adaptação ao jardim de infância: como tornar uma transição difícil numa experiência agradável para toda a família?

Muitas famílias passam o Verão a temer a chegada de Setembro, não pela perspetiva de terem de regressar ao trabalho. É que, com a chegada do fim das férias, vem também a entrada no jardim de infância e, apesar de esta poder trazer experiências extremamente positivas para as crianças, ao mesmo tempo, pode ser a experiência mais difícil de todas.

E aqui, não estamos só a falar das crianças… Os relatos dos amigos e familiares podem assustar: crianças que choram manhãs (ou dias!) inteiros, crianças que não dormem, crianças que não comem ou que só se acalmam com a chegada dos pais. “Dramático” não chega para descrever esta transição tão dura, tanto para as crianças como para toda a família.

Afinal, não é para menos. A criança passa a ficar com um grupo de estranhos: rodeada de crianças estranhas, pegada ao colo por adultos estranhos, deitada em camas estranhas, com horas intermináveis de espera até ver finalmente um rosto familiar. O vínculo criado entre as crianças e os que serão os seus adultos de referência terá uma importância fundamental, mas para que isto aconteça, a presença da família é um elemento importante.

Como suavizar o processo 

Quanto maior for a ligação da criança à família, mais capacidade terá a criança de enfrentar a difícil adaptação ao jardim infantil. Esta capacidade continua a ser uma ferramenta fundamental. É que, a adaptação escolar, quando vista da perspetiva das emoções de todos os envolvidos, é uma situação de grande intensidade, que desperta várias emoções.

Com tudo isto, não há margem para dúvidas: a promoção de um ambiente acolhedor que facilite a criação de laços afetivos com os adultos de referência, ou seja, toda a equipa de educadores e auxiliares que irão acompanhar a criança, é essencial para uma transição que se quer o mais suave e indolor possível.

Na Escola Lá Fora, uma escola da floresta presente em Lisboa, Almada e Ericeira, baseada no modelo de aprendizagem Forest School e numa abordagem ao desenvolvimento da criança que considera as características e o ritmo individuais de cada criança, esta adaptação e processo de transição são vividos de uma forma inclusiva, com o apoio de toda a equipa, mas também da família de cada criança.

Uma família presente

Como uma escola que funciona exclusivamente ao ar livre, na natureza, não existem salas físicas, corredores ou portas que se fechem quando a família se vai embora e essa é uma ideia que se reflete também na filosofia desta escola da floresta.

“Na Escola Lá Fora, queremos respeitar o ritmo de cada criança e da sua família”, explica a diretora executiva e pedagógica, Ana Galvão. “Numa primeira fase, acreditamos que as crianças necessitam de reconhecer o espaço como um lugar seguro”, diz. É por isso que, nesta fase, a criança é acompanhada por um elemento de referência, como a mãe, o pai ou outro cuidador.

“À medida que a criança vai criando confiança, por norma, vai-se apropriando do espaço e, gradualmente, vai ganhando mais autonomia”, acrescenta. Esta momento de apropriação do espaço é também quando a criança terá a oportunidade de criar momentos de interação com os adultos que acompanham o grupo da criança e que assim, vão conseguindo estabelecer uma relação com ela, respeitando o seu tempo de adaptação.

“Acreditamos que a primeira separação deve ser feita apenas após esta fase, quando a criança já tem alguma segurança no espaço e um adulto de referência a quem pode recorrer”, diz Ana. Já a duração desta fase é variável, tal como cada criança é única no seu desenvolvimento e características. Na Escola Lá Fora, sugere-se que este momento de separação seja feito por períodos curtos numa fase inicial e combinado com um dos adultos do grupo, para que tudo possa acontecer de forma alinhada e coerente entre a equipa escolar e a família. “O que sabemos é que este processo, para algumas crianças, pode demorar um mês, para outras pode demorar um, dois ou três dias. Vai depender das características de cada criança e da confiança e tranquilidade que lhes é passada”, explica.

Um local de afetos

Para que toda a adaptação corra da melhor forma, promove-se canais de comunicação abertos entre a escola e a família, bem como um trabalho conjunto em todas as etapas. “Esta é uma fase difícil do ponto de vista emocional para muitas famílias e é importante que a escola esteja disponível para acolher as suas preocupações de uma forma empática e compreensiva”, conclui Ana Galvão.

Mas porque é tão importante garantir uma adaptação suave e tranquila a uma nova escola? Segundo Ana Passos e Sousa, diretora executiva da Escola Lá Fora, “as adaptações tranquilas são o ‘segredo’ para uma feliz permanência na escola”. Assim que a família ganha confiança na equipa da escola e a criança se apercebe disso, haverá espaço a uma transição fluida para um contexto que, de desconhecido, passa a familiar. “Um local de pertença e de afetos”, explica Ana.

E aqui, as famílias continuam a ser uma peça fundamental. “O facto de as famílias serem convidadas a participar ativamente neste processo de adaptação, promove o estabelecimento de uma relação de confiança entre a criança, a família e a escola”. Esta participação, por sua vez, é vista como um processo de “autonomização apoiada”. Ou seja, um processo com o derradeiro objetivo de que “a criança crie relações positivas e de segurança neste novo contexto que a acolhe”.

Começar a escola, Lá Fora

Fica a questão: será que o facto de esta adaptação ser feita inteiramente ao ar livre, sem uma porta que se fecha? Afinal de contas, não costumamos dizer que, “o que os olhos não veem, o coração não sente?”. No caso das crianças, tudo indica que isto não acontece, além de que, cada vez mais, tem sido comprovado que a brincadeira e aprendizagem ao ar livre é um elemento fundamental para um desenvolvimento saudável e completo das crianças, especialmente na idade pré-escolar.

“É desconcertante como, num país com o número de dias de sol e um clima tão favorável e ameno, as nossas crianças estejam entre as que passam menos tempo ao ar livre ao longo de todo o ano”, critica Constança Cordeiro Ferreira, terapeuta de bebés e fundadora do Centro do Bebé, em Lisboa. “Não é possível desenvolver todo o potencial de exploração, curiosidade e até do ponto de vista fisiológico, em aspetos como o sono, por exemplo, sem deixarmos que as nossas crianças contactem com os elementos naturais, com o mundo externo”, acrescenta.

Para Constança, na primeira infância, um projeto alicerçado na aprendizagem na natureza e no reconhecimento de cada criança como um ser único, com necessidades e um desenvolvimento único, como é o caso da Escola Lá Fora oferece tudo o que os pais devem receber de um jardim de infância: um projeto pedagógico centrado na criança, ligações afetivas fortes e seguras e a mais-valia de oferecer às crianças aquilo que elas vêm preparadas para receber: o mundo inteiro para explorar”, conclui.

A ciência corrobora: passar a infância na natureza tem benefícios muito além do desenvolvimento emocional das crianças. Na verdade, basta um mês a brincar na floresta para que o sistema imunitário de uma criança mude significativamente, segundo um estudo realizado pelo Instituto de Recursos Naturais da Finlândia, que contou com a participação da investigadora Marja Roslund.

Numa entrevista à Escola Lá Fora, Roslund explicou que, este estudo descobriu que a exposição das crianças aos micróbios encontrados na natureza aumenta significativa a diversidade da microbiota humana. Por outras palavras, a exposição das crianças à natureza “oferece uma abordagem viável para reduzir o risco de doenças autoimunes em populações urbanas”, explica.

Roslund explica: “o ideal seria acrescentar biodiversidade aos jardins infantis, com elementos naturais verdes, deixar as crianças brincar com a terra. Por exemplo, envolver as crianças e cuidar de plantas, explorar a natureza e outras atividades educativas ambientais na natureza. E claro, visitar a natureza com as crianças o mais possível”. 

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